▲ 12 de junho de 2014



Sentada numa cadeira de um mísero café, conversei mentalmente com uma garrafa de uísque. Por um minuto, pareceu um diálogo medíocre, foi a conversa mais bizarra em que já participei. Mas quando aquela conversa se acabou, percebi que tinha, finalmente, reencontrado o verdadeiro eu que vivia dentro de mim. Percebi que tínhamos algo em comum, aquela garrafa estava vazia, tão vazia quanto eu. Percebi que me cansei de gritar e gritar e gritar até eu própria não me ouvir mais. E de chorar todos os oceanos que estão em mim. E existir no nunca, no breve, no fim. E concluí que só quando as palavras beberem e andarem e respirarem por mim, deixarei de ser essa carne viva em óbito ambulante. Assim como as pessoas. Essas mesmo que são tristes porque cavam buracos dentro de si e esmagam toda a possibilidade de salvação e de cura. A tristeza foi ontem, onde deixei de fugir de mim. Mas falta eu em mim, assim como o abstrato me falta para dizer as inverdades que carreguei feita corcunda muda. A sua mudez estalou no meu peito e eu gritei num silêncio que foi à lua e tropeçou nos ouvidos. Eu não posso mais suportar quando me comprimo em dias quentes para não desmascarar a aflição humana que carrego. As pessoas são tristes, morrem enquanto andam, enquanto riem, enquanto ouvem músicas e repensam sobre o nada que lhes conferem. Vazio. Somos tristes pelos vazios dos textos, pelo vazio das palavras, por mim que cavei buracos e não sei voltar.

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