october viii ▲ 25 de dezembro de 2012




Eu faço parte das pessoas que se doem por inteiras, porque não vivem só na superfície das coisas. Ao vasculhar nas memórias em busca de algum assunto, encontrei a carta que eu rabisquei sem razão. Não sei porque nunca lhe a li, talvez não quisesse passar a limpo o passado ou talvez queria que as coisas permanecessem como estavam. Acertei o caminho, não porque segui as setas, mas porque desrespeitei todas as placas de aviso. - achei curioso usar essa metáfora sem nem ao certo saber o que lhe queria dizer com isto. E, depois de repousadas aquelas palavras eu percebi quantas coisas eu lhe escrevi, para que de uma vez por todas acertasse no caminho certo, e não errasses mais. Voltei atrás. Andei em círculos, perdi dias, perdi o rumo, perdi a paciência e iludi-me em tentativas aparentemente inúteis para encontrar um quase caminho para nós duas. E sei que ela continua a saber tudo sobre mim. Que o aperto no meu peito não diminuiu, que o meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos brilhantes, mas que tenho estado quieta, calada, concentrada numa vida prática e sem aquela necessidade toda de parecer simpática. Contínua a saber quais são os meus novos assuntos e os meus filmes favoritos, mesmo que não seja os dela. Ela sabe que a cada dia eu penso mais e mais nela, e que conservo alguma curiosidade em saber se o seu coração está mais tranquilo, se o cabelo dela mudou, se o seu olhar continua inquieto e se o seu sorriso contínua maravilhoso. Ela sabe que aprendi a não sobrecarregar o meu coração. Ela continua a saber de mim, sem notar que se perde dela própria e que me magoa por essa mesma razão. 



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